No lançamento do jogo ‘Call of Duty: Black Ops 7’, da Activision, uma polêmica inesperada ganhou destaque e gera discussões mais profundas sobre o uso de inteligência artificial (IA) no ambiente criativo e regulatório.
Segundo a imprensa local, o jogo incorporou ilustrações geradas por IA que foram prontamente criticadas por jogadores e observadores como ‘slop’, ou seja, de qualidade aquém do esperado.
O que rolou
Durante a recepção do game, foi observado que várias artes, elementos visuais ou assets menores continham sinais claros de geração automatizada. Ou seja, mãos com seis dedos, posturas estranhas, baixa coerência estilística.
Detalhes que sugerem que, ao invés de um artista humano ter concebido aquelas peças com cuidado, alguma ferramenta de IA foi usada de forma genérica e massiva.
Além disso, considerando que se trata de uma franquia de enorme sucesso e orçamento elevado, muitos jogadores e profissionais do setor consideraram o resultado ainda mais repreensível. Afinal, se a empresa ‘mais rica do planeta’ investiu tanto, por que usar arte automatizada de qualidade inferior?
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A resposta política: regulação em pauta
O episódio ganhou contornos institucionais quando o congressista norte-americano Ro Khanna declarou no Twitter que o uso massivo de IA para substituir artistas humanos e extrair lucros deve ser regulado. Ele defendeu que é necessário impedir que empresas utilizem IA para eliminar empregos, apenas em busca de extração de lucro.
Além disso, Khanna também defende que os artistas que contribuíram em tais empresas devem ter voz sobre como a IA é aplicada. Por fim, também afirma que deve haver uma espécie de imposto sobre a ‘deslocação em massa’ de trabalhadores causada por IA.
Em resposta, o empresário David Friedberg (fundador da The Climate Corporation e outras iniciativas) contra-argumentou que a IA pode criar novos empregos melhores e que a analogia com tratores na agricultura mostra como a tecnologia há muito liberta trabalhadores de tarefas mais pesadas.
Call of Duty – Por que isso importa
O caso Black Ops 7 expõe diversas tensões de fundo:
- Criatividade vs automação: a substituição de mão de obra criativa por IA suscita debates éticos e práticos. Se uma arte automática falha visualmente — como no caso das mãos deformadas — isso gera repercussão para a marca e para a indústria.
- Transparência e qualidade: grandes lançamentos trazem expectativa de padrão elevado. O uso de IA de forma visível e mal-executada pode comprometer reputação e confiança do público.
- Regulação emergente: o fato de um representante público propor impostos para ‘deslocação em massa’ e exigir participação dos artistas mostra que não se trata mais de um problema interno das empresas, mas sim de política pública e direito do trabalho.
- Impacto na indústria de games: se até grandes estúdios são questionados por uso de IA nesta escala, os impactos para estúdios menores, freelancers e artistas podem se intensificar tanto em competição como em condições de emprego.
Desafios e próximos passos
A proposta de Khanna, embora simbólica, enfrenta vários obstáculos práticos: regulamentar a nível federal o uso de IA por empresas de entretenimento é algo complexo — quem define qual arte é ‘automática demais’?
Como quantificar ‘massiva deslocação’? Como definir participação nos lucros para artistas? Kotaku já aponta que ‘provavelmente não são os argumentos mais bem pensados’.
Por outro lado, o debate gerado por Call of Duty é bem-vindo. Mesmo se as soluções práticas permanecerem incertas, o episódio ajuda a ‘virar o foco’ para como a IA está sendo aplicada em indústrias criativas, qual o custo humano e reputacional, e como as legislações e práticas de mercado podem evoluir.
Conclusão (ou quase)
O que poderia ter sido apenas mais uma crítica de jogadores de Call of Duty ao ‘pé-sujo’ de um lançamento importante acabou se tornando um desligar de alarme: o uso de IA em estúdios de alto nível está sob observação política.
O episódio de Black Ops 7 lembra que qualidade, ética e imagem valem e que tecnologias que prometem economia de escala podem gerar reações contrárias se levarem à percepção de ‘arte preguiçosa’.
Resta ver como indústria, reguladores e criadores vão reagir e se haverá um marco regulatório que acompanhe essa nova fronteira criativa-tecnológica. Todo mundo de olho em Call of Duty.