A série Stranger Things, sucesso global da Netflix, trouxe para milhões de espectadores uma referência constante a um jogo que, para muitos, era quase desconhecido: o Dungeons & Dragons (ou D&D).
Mais do que um simples passatempo, o RPG criado em 1974 por Gary Gygax e Dave Arneson mudou a forma como jogadores interagem com narrativas.
Além disso, ele ajudou a moldar tanto a cultura pop quanto os videogames modernos.
Desde sua aparição na primeira temporada da série, quando os garotos de Hawkins enfrentam o temido ‘Demogorgon’ em uma partida improvisada, o D&D ganhou uma nova legião de curiosos.

Mas, afinal, o que está por trás desse jogo que atravessa gerações?
A origem de Dungeons & Dragons
O Dungeons & Dragons nasceu nos Estados Unidos como uma evolução dos tradicionais jogos de guerra com miniaturas.
Inspirados pelo sistema Chainmail, Gygax e Arneson decidiram abandonar exércitos e colocar o jogador no papel de apenas um personagem.
Essa simples mudança deu origem ao conceito de role-playing game, ou jogo de interpretação de papéis.
Lançado oficialmente em 1974 pela TSR, o D&D rapidamente se tornou um marco cultural.
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A publicação é considerada a origem dos RPGs modernos e abriu caminho para uma indústria inteira, que depois influenciaria diretamente a criação de videogames como Baldur’s Gate, Neverwinter Nights e World of Warcraft.

Hoje, o jogo está em sua quinta edição, publicada pela Wizards of the Coast, subsidiária da Hasbro, e no Brasil é distribuído pela Asmodee, sucessora da Galápagos Jogos.
O jogo, que é um jogo de tabuleiro, não possui vencedores no sentido clássico.
Em vez disso, os participantes constroem juntos uma história coletiva.
Cada jogador cria um personagem, escolhendo sua raça, classe, habilidades e até um alinhamento moral.
Para dar vida a essas escolhas, usam uma ficha de personagem e dados poliédricos, famosos pelo icônico dado de 20 lados.
Como jogar Dungeons & Dragons
No centro da mesa está o Dungeon Master (ou Mestre de Jogo), responsável por narrar os cenários, interpretar personagens secundários e aplicar as regras.
Ele descreve os ambientes, os desafios e até as consequências das decisões do grupo.
A cada ação importante, uma rolagem de dados determina se o personagem foi bem-sucedido ou não.
Essa mecânica simples cria possibilidades praticamente infinitas.
O grupo pode explorar uma masmorra cheia de armadilhas, negociar com um dragão ou simplesmente passar horas em uma taverna planejando a próxima aventura.
O que mantém o jogo vivo é a imaginação e a interação entre os participantes.
Um jogo de D&D é chamado de aventura. Essas aventuras podem ser criadas pelo Mestre ou seguir roteiros publicados em livros oficiais.
Quando várias aventuras se conectam, surge uma campanha, que pode durar meses ou até anos.
Os cenários variam desde mundos clássicos, como Forgotten Realms e Dragonlance, até universos originais criados pelos próprios jogadores.

Essa flexibilidade faz com que cada grupo viva uma experiência única. Em algumas campanhas, a ênfase pode estar no combate contra monstros; em outras, em dilemas morais e políticos.
Além disso, o jogo apresenta uma cosmologia rica, com planos de existência como os Nove Infernos ou o Monte Celestia.
Assim, permitindo que os personagens vivam histórias que vão do épico ao sombrio.
A influência em Stranger Things
Quando os irmãos Duffer decidiram criar Stranger Things, eles usaram D&D como um espelho para a própria narrativa.
Logo no início, os meninos enfrentam o Demogorgon, criatura do bestiário do jogo que se tornou metáfora para o monstro da primeira temporada.
Mais tarde, a série traria outras referências, como o Mind Flayer e o Vecna, todos inspirados em vilões clássicos do RPG.

A escolha não foi apenas estética. O D&D traduz o espírito da série: amizade, imaginação e coragem diante do desconhecido.
Assim como no jogo, os personagens de Hawkins precisam trabalhar em conjunto, improvisar estratégias e enfrentar riscos que parecem maiores do que eles.
O impacto foi imediato. Desde 2016, ano de estreia de Stranger Things, houve um aumento expressivo na venda de manuais e dados de RPG.
Muitos jovens que nunca tinham ouvido falar no jogo decidiram experimentar por causa da série.
O legado de Dungeons & Dragons
Com mais de 50 anos de história, o Dungeons & Dragons continua sendo sinônimo de criatividade e cooperação.
Ele inspirou escritores, cineastas e programadores a expandirem o conceito de mundos interativos.
Também abriu portas para uma comunidade global que hoje se conecta em mesas presenciais e plataformas digitais.
Atualmente, o jogo vive o que especialistas chamam de renascença do RPG, com a popularização de transmissões ao vivo em plataformas como Twitch e YouTube.
Programas como Critical Role transformaram partidas em espetáculos seguidos por milhões de espectadores.
No Brasil, a trajetória foi marcada pela famosa série animada Caverna do Dragão, exibida pela Rede Globo nos anos 1980, e pela chegada das edições traduzidas, que formaram gerações de jogadores.

