Monopoly celebra 90 anos com colecionável de ‘rival’

Trata-se da primeira parceria oficial entre a Mattel e Hasbro em quase um século de história de Monopoly.
Monopoly celebra seus 90 anos

Monopoly, o tabuleiro mais famoso do mundo, completa 90 velas. E para marcar a data, decidiu atravessar a rua e bater na porta do vizinho de pista.

A Hasbro anunciou que Monopoly celebra seus 90 anos em uma colaboração inédita com a Mattel. O lançamento do Hot Wheels Pass ‘N Go, um die-cast 1:64 inspirado no icônico peão ‘carro de corrida’ do jogo.

Trata-se da primeira parceria oficial entre as duas marcas em quase um século de história de Monopoly, e o recado para o mercado de jogos de tabuleiro e colecionáveis é claro: IPs clássicas podem (e vão) expandir seu alcance por meio de acordos de licenciamento inteligentes, sem abandonar sua origem lúdica na mesa.

Monopoly celebra seus 90 anos

Monopoly celebra 90 anos com lançamento

A peça chega globalmente em 1º de novembro e terá preço sugerido na faixa de US$ 1,25, uma estratégia de preço ‘de entrada’ que conversa com o público colecionador e, ao mesmo tempo, com consumidores ocasionais.

Na prática, é o tipo de crossover que empilha públicos distintos: fãs de Monopoly, colecionadores de Hot Wheels, famílias que giram o tabuleiro nos feriados e até o consumidor nostálgico que ‘quer algo do aniversário de 90 anos’.

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Para além do ‘uau’ do anúncio, há uma engenharia de negócios por trás. Monopoly atravessou nove décadas como marca de massa e plataforma de licenciamento — versões de cidade, edições de clubes de futebol, parcerias com franquias de entretenimento e reinterpretações regionais (como edições locais com marcos urbanos).

O movimento com a Mattel, no entanto, é qualitativamente diferente. Não é ‘colar logo no tabuleiro’. É materializar um peão como objeto desejável em outra categoria icônica (die-cast), acionando repertórios afetivos paralelos. Por exemplo a pista, a garagem, a prateleira de miniaturas. É a lógica “IP-mesh”: bordo e pista conversam, e o consumidor circula entre categorias sem sentir ruptura de linguagem.

No plano tático, o preço baixo (US$ 1,25) funciona como catalisador de volume e porta de entrada para novas compras.

O colecionador hardcore compra de caixa fechada; o comprador casual pega ‘só um’ no caixa do mercado ou da loja de brinquedos; e o fã de Monopoly — que talvez nunca tenha comprado um Hot Wheels — agora tem um motivo para começar.

Estratégia funil

É a estratégia de funil que Hot Wheels domina há décadas: produto desejável, acessível e colecionável por repetição, capaz de multiplicar tíquetes por impulso em grandes redes. Para o aniversário de Monopoly, isso significa um artefato de celebração escalável: a lembrança custa pouco, mas rende conversa social, posts e fotos com o tabuleiro.

Há também o componente simbólico. Monopoly é, essencialmente, um jogo de propriedades, trocas e circulação de capital, a square economy original do entretenimento de mesa.

Hot Wheels, por sua vez, é sobre velocidade, pista e coleção: o colecionável repetível por excelência. O Pass ‘N Go amarra as duas semânticas. Passar pelo Go no tabuleiro vira passar pela curva no trilho, dois gestos de fluxo, movimento e próxima jogada.

Por que isso importa para o mercado de jogos de tabuleiro? Primeiro, porque o setor vive uma década de ouro em variedade e sofisticação, mas a tração mass market continua muito ancorada em grandes IPs familiares.

Quando Monopoly ressignifica sua iconografia num produto altamente distribuível, ele ensina um playbook que editoras médias e grandes já vêm copiando. Ou seja, expandir o repertório de contato com a marca para além da caixa base. Seja em HQs, romances tie-in, objetos de decoração, ou, como aqui, em colecionáveis que puxam o retorno ao tabuleiro. A mensagem: não é só o jogo; é o ecossistema.

Hasbro-Mattel

Depois, porque o cruzamento Hasbro–Mattel — rivais históricos — não nasce no vácuo. Em 2023, as empresas já haviam firmado acordos de licenciamento cruzado (como Barbie Monopoly e UNO Transformers), abrindo a porteira para cooperações de calendário, vitrine e storytelling.

O Pass ‘N Go de 2025 é o ponto de maturidade desse namoro corporativo: um produto simples, baratíssimo e com potencial de entrar em milhões de carrinhos (de compra), com sinal verde de ambas as gigantes.

Para o tabuleiro, isso significa elasticidade de marca Monopoly que fica confortável fora da caixa, sem risco de canibalizar a experiência principal. Pelo contrário, o mimo colecionável reforça o ritual social do jogo.

Tabuleiro para o varejo

De um ponto de vista de varejo e supply, trata-se de uma jogada muito “Q4-friendly”. O lançamento em 1º de novembro acopla o carrinho-brinde ao coração da temporada de presentes, quando Monopoly historicamente sobe de prateleira.

A disponibilidade global permite campanhas integradas de fim de ano, desde o PDV com ilha temática (tabuleiro + trilho) até bundles oportunistas.

E o custo unitário baixo facilita promoções “leve 3, pague 2”, programas de fidelidade e ativação em supermercados, onde Hot Wheels performa fortemente. O item foi desenhado para funcionar no tabuleiro e na pista. É exatamente o tipo de ideia plug-and-play que o varejo adora em dezembro.

No tabuleiro das finanças, a Hasbro tem enfatizado que a unidade Wizards of the Coast (com Magic: The Gathering) vem puxando crescimento; Monopoly entra no bolo como marca-âncora de consumo familiar, útil para dar lastro de previsibilidade à sazonalidade de fim de ano.

Embora a atualização financeira mais recente não esteja atrelada diretamente a este anúncio, o pano de fundo importa para entender o apetite de licenciamento e colaborações de alto ROI — itens de baixo preço, forte rotação e buzz social — que reduzem risco e aumentam a frequência de compra. Em síntese: o Pass ‘N Go nasce num timing perfeito.

Leonardo Cavalcanti é jornalista e atua na cobertura de games, apostas online e tecnologias emergentes aplicadas ao entretenimento. Também fala sobre blockchain, criptoativos e inovação financeira. Com formação acadêmica em Jornalismo pelo Mackenzie e trajetória no jornalismo digital, conecta o público gamer a tendências globais.