A aquisição da EA pela Arábia Saudita por 55 mil milhões de dólares foi uma história de terror moderna disfarçada de jogo.
Tratou-se de um negócio gigantesco com alavancagem e uma enorme montanha de dívidas. Como resultado, uma das editoras mais odiadas foi entregue a fundos de capital privado e ao Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (PIF).
No entanto, alguns meses depois, há uma reviravolta interessante que muda tudo o que pensávamos anteriormente sobre o negócio.
O mesmo fundo que ajudou a financiar a aquisição recorde da EA está, segundo consta, a apertar o cinto após uma série de investimentos ambiciosos.
Agora, depois de tudo isto, a questão já não é ‘o que farão os novos proprietários da EA?’, mas sim ‘que negócio foi este, em retrospetiva?’.
Para uma empresa que está prestes a ficar com uma dívida de 20 mil milhões de dólares sob uma nova administração, arriscamos dizer que cenário atual não é o ideal.
Tanto a empresa, como os seus investidores, podem muito bem-estar arrependidos.
Uma aquisição que prometia enormes investimentos
Em teoria, o acordo com a EA era um exemplo clássico de capitalismo tardio no setor dos videojogos.
Um grupo de investidores liderado pela Silver Lake, pela PIF da Arábia Saudita e pela Affinity Partners de Jared Kushner, apresentou uma proposta de aquisição no valor de 55 mil milhões de dólares.
Desse modo, a EA passou a ser uma empresa privada. Os acionistas receberam um prémio de 20 a 25% sobre as suas ações. Contudo, a própria EA contraiu uma dívida de cerca de 20 mil milhões de dólares para que os números batessem certo.
Assim, acreditando no sucesso dos jogos ao vivo da EA (o antigo FIFA, agora FC, em destaque, mas também Madden, Apex e claro o sucesso Battlefield), os diretores da empresa retiraram a empresa dos mercados públicos.
Desse modo, acreditavam poder afastar-se do drama dos lucros trimestrais. E em troca, ganhariam uma máquina de dinheiro passível de ser otimizada com menor escrutínio.
Os analistas consideram esta a maior aquisição alavancada da história dos videojogos e uma das maiores de sempre em qualquer setor.
Atualmente, espera-se que o negócio seja concluído no primeiro trimestre fiscal de 2027, caso os reguladores não o inviabilizem.
Entretanto, a EA opera num estranho limbo: tecnicamente independente, mas com todos de olho na nova aquisição, como se fosse uma onda gigante no horizonte.
Para piorar a situação, algumas reportagens recentes referem que o PIF atravessa um período de dificuldades em alguns dos seus megaprojetos, como a nova cidade Neom.

Segundo fontes como o New York Times, esses projetos não estão a gerar liquidez e enfrentam atualmente algumas dificuldades financeiras, levando o PIF a alertar os parceiros de que está efetivamente sem recursos.
Como resultado, a EA pode futuramente não vir a receber os financiamentos que estavam em cima da mesa, no âmbito do negócio.
O que pode acontecer à EA a longo prazo, se o negócio falhar?
Caso o negócio com o fundo saudita não se concretize, a EA não deverá fechar portas amanhã, mas poderá enfrentar um futuro bastante sombrio.
Cenário 1: A aquisição é concretizada, mas a prometida era de ‘negócios como de costume’ nunca chega e, em vez disso, a empresa enfrenta anos de reestruturação e infelizmente, muitos despedimentos.
Cenário 2: os reguladores ficam preocupados com o ruído crescente em torno das finanças e influências estrangeiras do PIF e, por isso, impõem condições que complicam ou atrasam indefinidamente a concretização do acordo.
Cenário 3: este é o pior cenário possível, ‘a machada final’ na EA, por assim dizer. Se os problemas financeiros do PIF persistirem ou piorarem, o grupo proprietário poderá procurar vender partes da EA e, em seguida, dividir o negócio. O pior dos piores cenários? A revenda de ativos para recuperar o dinheiro perdido.
Todas estas possibilidades parecem sombrias para os jogadores. O futuro próximo do estúdio deverá passar sobretudo pelos jogos desportivos, pelos jogos de tiros e sobretudo pelos jogos de ação ao vivo.
Em suma, a EA deverá centrar-se nos jogos que trazem maior rentabilidade, mas que não exigem criatividade.
