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Jogamos Aviãozinho do Tráfico 3: um dos jogos mais caóticos da Steam

Uma experiência divertida baseada nos FPS dos anos 90 com muitas referências brasileiras.
Aviãozinho do Tráfico 3

Não é sempre que se tem a oportunidade de jogar um jogo chamado ‘Aviãozinho do Tráfico 3: abri um portal para o inferno na favela tentando reviver Mit Aia e preciso fechar’. Mas cá estamos.

Com um título tão grande assim, creio que ninguém vai reclamar se só chamarmos o game de Aviãozinho do Tráfico 3 daqui para frente.

E sobre o longo subtítulo, pode parecer difícil de entender quem é ‘Mit Aia’, então traduzimos para você: não é ninguém menos do que o rei do Soul brasileiro, o cantor Tim Maia. O nome aparentemente teve que ser trocado por risco de processo.

Sendo assim, o que é o jogo, então? Aviãozinho do Tráfico 3 é um game de tiro em primeira pessoa (FPS) nos moldes do primeiro Doom, de 1993. Então espere ação frenética, tiroteio, inimigos meio burros e muita correria.

Isso é que é interessante, inclusive. O jogo pode realmente agradar os fãs de Doom e Quake antigos. Afinal, ele te dá aquela sensação nostálgica de pegar um jogo de tiro para sair atirando quase que só na horizontal sem se preocupar muito com a mira.

Ambientação

O que torna Aviãozinho do Tráfico único além do nome gigantesco é a ambientação. Como o próprio nome diz, ele se passa em uma favela carioca cheia de barracos e becos renderizados em um 3D sujo dos anos 90. Se já jogou Cruelty Squad vai entender o que estou falando.

Seus inimigos são moradores da favela transformados em zumbis após uma tentativa mal sucedida de reviver o Tim Maia (ops, Mit Aia). Alguns vão portar armas e outros estarão desarmados e estranhamente serão muito mais difíceis de matar do que os armados.

Quase todo mundo está vestido com camisas genéricas do Flamengo e há também alguns inimigos gigantes que absorvem mais dano e atiram mísseis no seu personagem. Tem também uns caras bem estranhos que parecem estar vestidos de super-herói (porém, eu admito que falhei em entender por que).

As referências são o ponto alto e tornam a experiência uma grande comédia. Eu ganhei uma conquista chamada ‘CLIENTE LIXO’ ao matar o dono de um boteco possuído e outra chamada ‘FOI DE VASQ’ ao morrer pela primeira vez.

Essa piada com o gigante da colina não é a única e faz a gente questionar se o criador do jogo não tem algo pessoal contra o Vasco da Gama.

No Doom original, quem jogou vai lembrar que no meio da tela tinha o rosto do seu personagem, que começava a exibir dor conforme você tomava dano. Aqui, em vez disso, temos emojis de WhatsApp que vão do feliz ao desesperado. Quando você está quase morto, o emoji aparece do lado de um escudo do Vasco.

Quer saber como funcionam as plataformas para apostar em eSports? Gameshub tem um guia sobre o tema.

Referências, muitas referências

As sátiras do jogo parecem infinitas e não se limitam a Vasco, Doom, Flamengo, favela e Tim Maia. Em um determinado ponto eu encontrei um cartaz com o mascote da Copa do Mundo de 2014, o Fuleco, aparentemente jogado na sarjeta com os dizeres ‘pentacampeão’ embaixo dele.

O Tim Maia é um caso à parte. Imagens pixeladas dele estão por toda a parte, fazendo com que o compositor de ‘Imunização Racional (Que Beleza)’ pareça uma espécie de Grande Irmão, como no livro 1984. Eu me senti o tempo todo observado por aquele grande cantor que partiu e nunca mais voltou.

Elementos do cotidiano do brasileiro também ganham bastante espaço aqui. O jogador recupera vida comendo pastel com caldo de cana e tem uma fase nos camelôs, por exemplo. Além disso, há uma hilária arma baseada nas garrafas de Guaraná Dolly (no jogo se chama Golly).

Jogabilidade de Aviãozinho do Tráfico 3

O jogo é desafiador, exigindo velocidade e reflexo para escapar dos tiros dos inimigos enquanto os acerta. Você também vai precisar achar chaves para abrir portas, mas não é nada muito complexo e nem se aproxima de uma resolução de puzzle, por exemplo.

Só que há dois grandes problemas. Um é que o jogo realmente não vai muito além de ser um Doom repaginado. Outro é que o menu dele é uma bagunça. Tanto é que o próprio criador do game espalhou tutoriais na tela até para o jogador entender como salva.

Spoiler: não é só apertar F5 como em um Half-Life. Você precisa apertar ESC para entrar no menu, depois selecionar Single Player e aí, sim, clicar na opção de salvar.

Mesmo assim, dá para elogiar a criatividade e a diversão que o jogo proporciona, principalmente as boas risadas com todas as referências.

Brincadeira com o GOTY

Premiação de Game of the Year (GOTY) e Aviãozinho do Tráfico 3 parece uma combinação surreal mesmo para os anos estranhos em que vivemos, porém, é isso mesmo que aconteceu após o desenvolvedor de Megabonk pedir para ser retirado da categoria de ‘Melhor Estreia Indie’.

A publisher de Megabonk, NoQuarter, entrou na zoeira depois disso e postou na rede social X (Twitter) que somente Aviãozinho do Tráfico 3 poderia substituir o jogo deles na premiação.

Contudo, como os indicados já foram divulgados e a votação da premiação já começou, não teremos um momento ‘Ainda Estou Aqui’ com Aviãozinho do Tráfico 3 no GOTY. Não é hoje que o desenvolvedor Joevenon se tornará a Fernanda Torres dos gamers brasileiros.

Aviãozinho do Tráfico 3

PrósContras
FPS com muita ação.Proposta não traz muito valor de replay.
Dificuldade desafiadora.Menu confuso com muita fricção.
Referências hilárias.

Repórter do Gameshub, sou formado em jornalismo pela USP e também escrevo para o 99Bitcoins. Minha vida gamer começou com um Atari e passou por um Mega Drive e todas as gerações do Playstation. Fã nº 1 do Hideo Kojima e entusiasta de RPGs.