Em meio a gráficos realistas, narrativas de metaverso e multiverso, o universo dos games esconde algo que vai além da experiência principal, os famosos easter eggs.
Esses elementos secretos, cuidadosamente inseridos por desenvolvedores, são pequenas recompensas para os jogadores mais atentos. Em resumo, funcionam como uma conversa silenciosa entre quem cria e quem joga.
Mas o que são os famosos easter eggs? Bom o, termo, traduzido literalmente, significa `ovos de Páscoa`, e remete à tradição de esconder ovos decorados para que sejam encontrados. Pronto, simples né?
Nos jogos, os easter eggs seguem a mesma lógica: trata-se de conteúdos ocultos, referências ou mensagens secretas, colocados propositalmente para surpreender quem explora além do óbvio.
O nascimento dos easter eggs
O termo easter egg surgiu no mundo dos videogames em 1980, mas a prática de esconder mensagens e surpresas já existia muito antes.
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O marco para o nome veio com o jogo Adventure, lançado para o Atari 2600 com programação de Warren Robinett. Na época, a Atari não dava créditos aos desenvolvedores, e Robinett escondeu uma sala secreta com a frase ‘Created by Warren Robinett’.

Para acessar, o jogador precisava encontrar um pixel invisível e levá-lo a um ponto específico do mapa. Quando os executivos descobriram, cogitaram remover, mas perceberam que a ideia motivava os jogadores a explorar.
Um gerente comparou a experiência a ‘procurar ovos de Páscoa escondidos’, e assim nasceu o termo easter egg no universo dos games.
Antes disso, já havia exemplos de segredos intencionais em jogos, mas sem o nome oficial. Em 1977, o arcade Starship 1 trazia uma mensagem secreta ‘Hi, Ron!’, do programador Ron Milner e acessada por uma combinação de comandos.
No mesmo período, jogos de computador como Colossal Cave Adventure escondiam áreas secretas, piadas internas e passagens ocultas, estimulando a exploração.
Logo após o caso de Adventure, outros clássicos começaram a seguir a tendência. A série Swordquest (1982–1983) da Atari inseriu pistas nos jogos que levavam a competições no mundo real. Ademais,com prêmios em ouro e pedras preciosas.
Conceito de esconder surpresas já estava presente no cinema, TV e música
Já Manic Miner (1983) escondia uma sala com o nome do criador Matthew Smith, mostrando que a ‘assinatura secreta’ se tornava moda.
Muito antes dos videogames, porém, o conceito de esconder surpresas para fãs atentos já estava presente no cinema, na TV e na música.
O diretor Alfred Hitchcock, desde a década de 1930, aparecia discretamente como figurante em quase todos os seus filmes. Assim, criava uma espécie de jogo visual para o público.

A Disney, nas suas animações, inseria personagens de outros filmes ou objetos estranhos de forma sutil, recompensando os mais observadores.
No cinema autoral, Stanley Kubrick colocou referências ocultas e mensagens visíveis apenas em pausa em 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968).
Na televisão, o grupo Monty Python criava piadas internas e objetos sem explicação aparente, que só faziam sentido para quem acompanhava toda a série Flying Circus.
Na música, capas de discos de bandas como The Beatles e Pink Floyd escondiam imagens e mensagens secretas. Além disso, havia gravações ao contrário, como no álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967).
A evolução dos easter eggs
A década de 1990 marcou um salto criativo para os easter eggs nos videogames. Com o avanço dos gráficos e maior capacidade de armazenamento, os segredos deixaram de ser apenas assinaturas de desenvolvedores. Afinal, se tornaram piadas internas, fases ocultas e referências a outros jogos.
Um exemplo famoso foi Doom II (1994), que escondia a cabeça decapitada de John Romero, criador do jogo, atrás do chefe final — acessível apenas com truques.
Outro caso icônico foi Mortal Kombat (1992), que introduziu personagens secretos como Reptile, liberados com condições específicas.
Nessa época, os easter eggs também começaram a servir como conteúdo extra para recompensar jogadores, algo que se tornaria padrão.
Nos anos 2000, a chegada dos consoles com gráficos 3D mais sofisticados, como PlayStation 2, Xbox e GameCube, elevou a complexidade dos segredos.
Jogos como Halo 3 (2007) ficaram famosos por easter eggs extremamente elaborados. Por exemplo, como a mensagem secreta do desenvolvedor que só podia ser vista em um dia específico do ano.
Já Grand Theft Auto: San Andreas (2004) transformou o mundo aberto em um playground para referências e mistérios, incluindo o lendário ‘fantasma’ e a falsa lenda do Pé Grande.
Nessa fase, os easter eggs começaram a se misturar com lendas urbanas da comunidade gamer, criando debates e mitos que aumentavam o interesse pelos jogos.
Ferramentas de marketing e conexão cultural
A década de 2010 trouxe uma mudança de papel: os easter eggs passaram a ser também ferramentas de marketing e conexão cultural.
Desenvolvedores inseriam referências a filmes, memes e acontecimentos reais para gerar buzz nas redes sociais.
The Witcher 3 (2015), por exemplo, incluiu paródias sutis de Game of Thrones, enquanto Assassin’s Creed multiplicava conexões com títulos anteriores da franquia.

Os jogos independentes também abraçaram a prática, usando segredos como forma de criar identidade e aproximar fãs, como em Undertale (2015), que esconde eventos e diálogos acessíveis apenas em rotas alternativas.
Além disso, jogos como Fortnite e Call of Duty: Warzone integram eventos secretos que revelam pistas para conteúdos futuros, às vezes conectando jogos diferentes ou até franquias de cinema.
A tecnologia também permitiu easter eggs dinâmicos, que mudam com atualizações e temporadas, mantendo a caça aos segredos sempre viva. Além disso, com a cultura do streaming e YouTube, os easter eggs se tornaram parte essencial do marketing orgânico, já que cada descoberta vira conteúdo viral.
O valor cultural dessas recompensas
Assim como o grafite carrega mensagens além do que está pintado, os easter eggs nos games são manifestações criativas que desafiam padrões e conectam pessoas.
Em resumo, não vendem produtos nem alteram a narrativa principal, mas criam memórias, geram histórias e inspiram discussões.
Do ponto de vista de responsabilidade cultural, valorizam a liberdade artística e reforçam a ideia de que a interação digital pode — e deve — ter espaço para surpresas e humor.
Em um mundo onde cada segundo de gameplay é milimetricamente calculado para performance e monetização, esses segredos preservam algo raro: o prazer da descoberta espontânea.